/
cap_algvet.tex
1893 lines (1565 loc) · 122 KB
/
cap_algvet.tex
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
120
121
122
123
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
134
135
136
137
138
139
140
141
142
143
144
145
146
147
148
149
150
151
152
153
154
155
156
157
158
159
160
161
162
163
164
165
166
167
168
169
170
171
172
173
174
175
176
177
178
179
180
181
182
183
184
185
186
187
188
189
190
191
192
193
194
195
196
197
198
199
200
201
202
203
204
205
206
207
208
209
210
211
212
213
214
215
216
217
218
219
220
221
222
223
224
225
226
227
228
229
230
231
232
233
234
235
236
237
238
239
240
241
242
243
244
245
246
247
248
249
250
251
252
253
254
255
256
257
258
259
260
261
262
263
264
265
266
267
268
269
270
271
272
273
274
275
276
277
278
279
280
281
282
283
284
285
286
287
288
289
290
291
292
293
294
295
296
297
298
299
300
301
302
303
304
305
306
307
308
309
310
311
312
313
314
315
316
317
318
319
320
321
322
323
324
325
326
327
328
329
330
331
332
333
334
335
336
337
338
339
340
341
342
343
344
345
346
347
348
349
350
351
352
353
354
355
356
357
358
359
360
361
362
363
364
365
366
367
368
369
370
371
372
373
374
375
376
377
378
379
380
381
382
383
384
385
386
387
388
389
390
391
392
393
394
395
396
397
398
399
400
401
402
403
404
405
406
407
408
409
410
411
412
413
414
415
416
417
418
419
420
421
422
423
424
425
426
427
428
429
430
431
432
433
434
435
436
437
438
439
440
441
442
443
444
445
446
447
448
449
450
451
452
453
454
455
456
457
458
459
460
461
462
463
464
465
466
467
468
469
470
471
472
473
474
475
476
477
478
479
480
481
482
483
484
485
486
487
488
489
490
491
492
493
494
495
496
497
498
499
500
501
502
503
504
505
506
507
508
509
510
511
512
513
514
515
516
517
518
519
520
521
522
523
524
525
526
527
528
529
530
531
532
533
534
535
536
537
538
539
540
541
542
543
544
545
546
547
548
549
550
551
552
553
554
555
556
557
558
559
560
561
562
563
564
565
566
567
568
569
570
571
572
573
574
575
576
577
578
579
580
581
582
583
584
585
586
587
588
589
590
591
592
593
594
595
596
597
598
599
600
601
602
603
604
605
606
607
608
609
610
611
612
613
614
615
616
617
618
619
620
621
622
623
624
625
626
627
628
629
630
631
632
633
634
635
636
637
638
639
640
641
642
643
644
645
646
647
648
649
650
651
652
653
654
655
656
657
658
659
660
661
662
663
664
665
666
667
668
669
670
671
672
673
674
675
676
677
678
679
680
681
682
683
684
685
686
687
688
689
690
691
692
693
694
695
696
697
698
699
700
701
702
703
704
705
706
707
708
709
710
711
712
713
714
715
716
717
718
719
720
721
722
723
724
725
726
727
728
729
730
731
732
733
734
735
736
737
738
739
740
741
742
743
744
745
746
747
748
749
750
751
752
753
754
755
756
757
758
759
760
761
762
763
764
765
766
767
768
769
770
771
772
773
774
775
776
777
778
779
780
781
782
783
784
785
786
787
788
789
790
791
792
793
794
795
796
797
798
799
800
801
802
803
804
805
806
807
808
809
810
811
812
813
814
815
816
817
818
819
820
821
822
823
824
825
826
827
828
829
830
831
832
833
834
835
836
837
838
839
840
841
842
843
844
845
846
847
848
849
850
851
852
853
854
855
856
857
858
859
860
861
862
863
864
865
866
867
868
869
870
871
872
873
874
875
876
877
878
879
880
881
882
883
884
885
886
887
888
889
890
891
892
893
894
895
896
897
898
899
900
901
902
903
904
905
906
907
908
909
910
911
912
913
914
915
916
917
918
919
920
921
922
923
924
925
926
927
928
929
930
931
932
933
934
935
936
937
938
939
940
941
942
943
944
945
946
947
948
949
950
951
952
953
954
955
956
957
958
959
960
961
962
963
964
965
966
967
968
969
970
971
972
973
974
975
976
977
978
979
980
981
982
983
984
985
986
987
988
989
990
991
992
993
994
995
996
997
998
999
1000
%Este trabalho está licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada. Para ver uma cópia desta licença, visite https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ ou envie uma carta para Creative Commons, PO Box 1866, Mountain View, CA 94042, USA.
\chapter{Álgebra vetorial}\index{álgebra vetorial}
O objetivo deste capítulo é revisar conceitos básicos do cálculo e da álgebra linear necessários ao entendimento do cálculo vetorial.
%***********************************************************************************
\section{Vetores e escalares}\index{vetores}\index{escalares}
Na álgebra linear, vetores\index{vetor} são definidos de forma abstrata como os elementos de um espaço vetorial\index{espaço vetorial}. Os vetores são, então, os elementos de um conjunto em que estão definidas duas operações: a soma de vetores e o produto de vetores por escalares obedecendo as propriedades (\ref{defel}). Um escalar\index{escalar} é um número real ou complexo. Quando o corpo de escalares é o conjunto dos números reais, então dizemos que o espaço vetorial é real. Quando o corpo de escalares é o conjunto dos números complexos, dizemos que o espaço vetorial é complexo. Usaremos uma letra latina com uma seta para denotar vetores ($\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$). Para que um espaço vetorial esteja bem definido, as seguinte propriedades devem ser satisfeitas:
\begin{subequations}\label{defel}
\begin{align}
\vec{u}+\vec{v}&=\vec{v}+\vec{u},&\text{(Comutatividade da soma)}\label{defelcom}\\
\vec{u}+\left(\vec{v}+\vec{w}\right)&=\left(\vec{v}+\vec{u}\right)+\vec{w},&\text{(Associatividade da soma)}\label{defelass}\\
\left(\alpha+\beta\right) \vec{u}&=\alpha\vec{u}+\beta\vec{v},&\text{(Distributividade da multiplicação)}\label{defeldist1}\\
\alpha \left(\vec{u}+\vec{v}\right)&= \alpha \vec{u}+\alpha\vec{v},&\text{(Distributividade da soma)}\label{defeldist2}\\
\alpha \left(\beta\vec{u}\right)&=\left(\alpha\beta\right)\vec{u},\label{defeldist3}\\
\vec{0}+\vec{v}&=\vec{v}, &\text{(Existência do vetor nulo)}\label{defelnulo}\\
0\vec{v}&=\vec{0},\label{defelnulo2}\\
1\vec{v}&=\vec{v}.&\text{(Elemento neutro)}\label{defelneutro}
\end{align}
\end{subequations}
\begin{obs} O vetor nulo $\vec{0}$ e escalar nulo $0$ são entidades matemáticas distintas e não devem ser confundidas.\end{obs}
\begin{obs}Observamos que a propriedade associativa dada por (\ref{defelass}) permite que se escreve a soma de três vetores $\vec{u}+\vec{v}+\vec{w}$ sem risco de ambiguidade. A propriedade (\ref{defeldist3}) é algumas vez chamada de associatividade, no entanto, é cauteloso observar que ela não estabelece a associatividade de uma operação, já que o produto de escalares é uma operação distinta do produto de um escalar por um vetor. A propriedade (\ref{defelnulo}) garante a existência de um vetor nulo que funciona com um elemento neutro da soma vetorial. \end{obs}
A subtração de dois vetores é definida por
\begin{equation}\label{delsub}
\vec{u}-\vec{v}=\vec{u}+ (-1) \vec{v}.
\end{equation}
O vetor $(-1) \vec{v}$ é também denotado por $-\vec{v}$ e tem a seguinte propriedade:
\begin{equation}\label{delinvad}
\vec{v}+(-\vec{v})=\vec{v}+(-1) \vec{v} = (1-1)\vec{v}=0\vec{v}=\vec{0}.
\end{equation}
Um conjunto de vetores $\{\vec{v}_1, \vec{v}_2,\ldots, \vec{v}_n\}$ é dito linearmente dependente (LD), se existem escalares $\{\alpha_1,\alpha_2,\ldots, \alpha_n\}$ com pelo menos um $\alpha_i\neq 0$ tal que
$$\sum_{i=1}^n\alpha_i \vec{v}_i=\vec{0}$$
Analogamente, um conjunto de vetores $\{\vec{v}_1, \vec{v}_2,\ldots, \vec{v}_n\}$ é dito linearmente independente (LI) se a identidade
$$\sum_{i=1}^n\alpha_i \vec{v}_i=\vec{0}$$
implica necessariamente que
$$\alpha_1=\alpha_2=\ldots=\alpha_n=0.$$
Um conjunto de vetores LI $B=\{\vec{e}_1, \vec{e}_2,\ldots, \vec{e}_n\}$ é dito uma base para um espaço vetorial $V$ se todo vetor $\vec{v}\in V$ pode ser escrito como uma combinação linear dos vetores de $B$:
$$\vec{v}=\sum_{i=1}^n \alpha_i \vec{e}_i.$$
Um espaço vetorial é dito de dimensão finita se admite uma base composta por um número finito de elementos.
\begin{teo}\label{teo_dim} Seja $V$ um espaço vetorial e $E=\{\vec{e}_1, \vec{e}_2,\ldots, \vec{e}_n\}$ e $F=\{\vec{f}_1, \vec{f}_2,\ldots, \vec{f}_m\}$ duas bases de $V$. Então $n=m$. Em outras palavras, todas as bases de espaço linear de dimensão finita têm o mesmo número de elementos.
\end{teo}
A importância deste teorema reside no fato de permitir a definição de dimensão de um espaço vetorial como sendo o número de elementos de uma base. Esta definição está bem posta, uma vez que este número independe da escolha de base.
Outro conceito importante em espaços reais de dimensão finita é o de orientação de uma base\index{orientação}. O leitor já deve estar familiarizado com o conceito de orientação dextrogira e levogira\index{dextrogira}\index{levogira}\index{regra da mão direita}\index{regra da mão esquerda} (regra da mão direita e esquerda) no espaço tridimensional. No entanto este conceito pode ser estendido de forma natural para espaços reais de n-dimensões. Formalmente falando duas bases $B_1$ e $B_2$ têm a mesma orientação se o determinante da transformação linear que liga $B_1$ a $B_2$ é positivo.
O espaço vetorial real de $n$ dimensões é denotado $\mathbb{R}^n$.
\subsection*{Exercícios resolvidos}
\construirExeresol
\subsection*{Exercícios}
\construirExer
%***********************************************************************************
\section{O espaço euclidiano tridimensional}
Nossa principal preocupação neste curso é com o espaço euclidiano de três dimensões, dada sua importância para descrição do espaço na física clássica.
O leitor já tem familiaridade com o sistema de coordenadas cartesianas\index{Sistema de coordenadas cartesianas} ($xyz$) para representar um ponto no espaço euclidiano tridimensional. Neste sistema, também chamado referencial cartesiano, cada ponto é representado por um conjunto de três coordenadas $x$, $y$ e $z$. Observamos que existem duas maneiras distintas de orientar tal sistema: usando a regra da mão direita e a regra da mão esquerda, que recebem o nome de dextrogira e levogira, respectivamente. Neste texto, daremos preferência pela orientação dextrogira, que convencionaremos como padrão. Uma vez escolhido um sistema dextrogiro como base, um trio de vetores linearmente independentes $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ é dito dextrogiro\index{dextrogira}\index{levogira}\index{regra da mão direita}\index{regra da mão esquerda} se o determinante
\begin{equation}\label{defdextro}
\det\left(\vec{u};\vec{v};\vec{w}\right)
\end{equation}
é positivo. Reciprocamente, o trio $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ é dito levogiro se o determinando for negativo. Veja mais detalhes no exemplo (\ref{probdextro}).
\begin{figure}\begin{center}
\includegraphics{./cap_algvet/figs/eixos_levo_destro}
\caption{À esquerda, um sistema dextrogiro (regra da mão direita). À direita, sistema levogiro (regra da mão esquerda).}
\label{fig:marginfig}
%\setfloatalignment{b}% forces caption to be bottom-aligned
\end{center}
\end{figure}
Um vetor é representado neste sistema como um trio de números reais, denominados componentes do vetor $\vec{v}$ e denotados por:
\begin{equation}\label{defeucv}\vec{v}=\left<v_1,v_2,v_3\right>.\end{equation}
É natural neste momento definir os vetores $\vec{i}$, $\vec{j}$ e $\vec{k}$ como
\begin{equation}\label{defijk}
\begin{array}{rcl}
\vec{i}&=&\left<1,0,0\right>\\
\vec{j}&=&\left<0,1,0\right>\\
\vec{k}&=&\left<0,0,1\right>
\end{array}
\end{equation}
de forma que a expressão (\ref{defeucv}) pode ser escrita como
\begin{equation}\label{repijk}\vec{v}=v_1 \vec{i}+v_2 \vec{j}+v_3 \vec{k}.\end{equation}
O vetor nulo é definido como vetor cujas três coordenadas são nulas:
\begin{equation}\label{defnulo}\vec{0}=0 ~\! \vec{i}+0~\! \vec{j}+0~\! \vec{k}= ~\!\left<0,0,0\right>.\end{equation}
A soma de dois vetores é dada pela soma componente a componente, ou seja, se $\vec{u}=u_1 \vec{i}+u_2\vec{j}+u_3 \vec{k}$ e $\vec{v}=v_1\vec{i}+v_2\vec{j}+v_3 \vec{k}$, então
\begin{equation}\label{defsoma}\vec{u}+\vec{v}= \left(u_1+v_1\right) \vec{i}+\left(u_2+v_2\right) \vec{j}+\left(u_3+v_3\right) \vec{k}.\end{equation}
O produto de um vetor por um escalar é definido como a multiplicação componente a componente pelo escalar, ou seja, se $\vec{u}=u_1~\! \vec{i}+u_2~\! \vec{j}+u_3 ~\! \vec{k}$, então
\begin{equation}\label{defprod}\alpha\vec{u}=(\alpha u_1)\vec{i}+(\alpha u_2)\vec{j}+(\alpha u_3) \vec{k} .\end{equation}
Definimos também a norma euclidiana\index{norma} de um vetor $\vec{v}$ como a distância da origem até o ponto que o vetor representa e a denotamos por $\|\vec{v}\|$. Pelo Teorema de Pitágoras, da geometria euclidiana, temos:
\begin{equation}\label{defnorma}\|\vec{v}\|=\sqrt{v_1^2+v_2^2+v_3^2}.\end{equation}
\subsection*{Exercícios resolvidos}
\construirExeresol
\subsection*{Exercícios}
\begin{exer} Mostre que o espaço vetorial assim definido satisfaz as propriedades (\ref{defel}).
\end{exer}
\begin{exer}\label{exnorma}Verifique que a norma euclidiana satisfaz as seguintes propriedades:
\begin{subequations}\label{propnorma}
\begin{align}
\|\alpha \vec{u}\|&=|\alpha|~\!\|\vec{u}\|,&\text{(Homogeneidade)}\label{propnormahom}\\
\|\vec{u}+\vec{v}\|&\leq \|\vec{u}\|+\|\vec{v}\|,&\text{(Desigualdade triangular)}\label{propnormatri}\\
\|\vec{u}\|&=0 \Longrightarrow \vec{u}=\vec{0},&\text{(Separação)}\label{propnormasep}
\end{align}
\end{subequations}
\end{exer}
\begin{figure}%[42\baselineskip]
\begin{center}
\includegraphics{./cap_algvet/figs/desigualdade_triangulo}
\caption{Representação gráfica da desigualdade triangular: $\|\vec{u}+\vec{v}\|\leq \|\vec{u}\|+\|\vec{v}\|$}
\label{fig:des_triang}
%\setfloatalignment{b}% forces caption to be bottom-aligned
\end{center}
\end{figure}
Dica: Para mostrar a desigualdade triangular\index{desigualdade triangular}, entenda seu significado geométrico. Uma demonstração puramente algébrica pode ser feita, embora seja mais laboriosa. Veremos mais adiante que o conceito de produto escalar\index{produto escalar} permite simplificar os cálculos.
A fim de simplificar a notação, a norma de um vetor $\vec{v}$ pode ser escrita simplesmente como $v$, ou seja
$$v=\|\vec{v}\|$$
Um vetor de norma 1 é chamado de vetor unitário\index{vetor unitário}. Todo vetor não nulo pode ser escrito na forma
\begin{equation}\label{decompversor}\vec{v}=v \hat{v}\end{equation}
onde $v$ é a norma de $\vec{v}$ e $\hat{v}$ é um vetor unitário dado por
\begin{equation}\label{defversor}\hat{v}=\frac{\vec{v}}{v}.\end{equation}
O vetor $\hat{v}$ é chamado de versor\index{versor} de $\vec{v}$. $\hat{v}$ é um vetor unitário que tem mesmo sentido e direção de $\vec{v}$.
A identidade (\ref{decompversor}) tem uma importante interpretação geométrica: todo vetor não nulo pode ser representado pelo seu módulo e por seu versor, que traz a informação de direção e sentido. Os vetores $\vec{i}$, $\vec{j}$ e $\vec{k}$ são exemplos de versores. O vetor nulo é o único vetor ao qual não se pode associar direção e sentido únicos.
\begin{exer}Mostre que a norma de um versor conforme definido em (\ref{defversor}) é sempre unitária.
\end{exer}
\begin{exer}\label{ex1uvw} Considere os vetores dados por $\vec{u}=\vec{i}+\vec{j}$, $\vec{v}=\vec{i}+2\vec{j}$ e $\vec{w}=\frac{1}{3}\vec{i}+\frac{1}{2}\vec{j}$. Represente estes vetores em um referencial euclidiano, calcule suas normas, calcule os versores associados $\hat{u}$, $\hat{v}$ e $\hat{w}$ e represente-os no mesmo gráfico.
\end{exer}
Resp: $u=\sqrt{2}$, ~~ $v=\sqrt{5}$ ~e~ $w=\frac{\sqrt{13}}{{6}}$.~ $\hat{u}=\frac{\sqrt{2}}{2}\vec{i}+\frac{\sqrt{2}}{2}\vec{j}$,~~ $\hat{v}=\frac{\sqrt{5}}{5}\vec{i}+\frac{2\sqrt{5}}{5}\vec{j}$,~~ $\hat{w}=\frac{2\sqrt{13}}{13}\vec{i}+\frac{3\sqrt{13}}{13}\vec{j}$
\begin{exer} Considere o vetor $\vec{u}=\cos\theta \vec{i}+ \sin\varphi \vec{j}$. Mostre que este vetor é unitário e represente-o graficamente quando $\varphi=0$, $\varphi=\frac{\pi}{6}$, $\varphi=\frac{\pi}{2}$ e $\varphi={\pi}$
\end{exer}
\begin{exer} Considere o vetor $\vec{u}=\sin\theta \cos\varphi \vec{i}+ \sin\theta \sin\varphi \vec{j} + \cos\theta \vec{k}$. Verifique que este vetor é unitário e represente-o graficamente quando
\begin{itemize}
\item[a)] $\theta=0$
\item[b)] $\theta=\frac{\pi}{4}$ e $\varphi=\frac{\pi}{4}$
\item[c)] $\theta=\frac{\pi}{2}$ e $\varphi=\frac{\pi}{4}$
\item[d)] $\theta=\pi$
\end{itemize}
\end{exer}
\begin{exer}\label{probmaxmin} Seja $\vec{u}=u_1\vec{i} + u_2\vec{j}$ um vetor não nulo fixo no plano $xy$ e $\vec{v}=v\left(\cos\varphi \vec{i}+\sin\varphi \vec{j}\right)$ um vetor de norma fixa no plano $xy$. Considere a função $m(\varphi)=\|\vec{u}+\vec{v}\|$ e encontre o valor máximo e mínimo de $m(\varphi)$. Interprete o resultado.
\end{exer}
\begin{exer}\label{probdextro} Conforme observado no texto, um trio de vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ é dextrogiro se
\begin{equation*}
\det\left(\vec{u};\vec{v};\vec{w}\right)= \left|\begin{array}{ccc}
u_1&v_1&w_1\\
u_2&v_2&w_2\\
u_3&v_3&w_3
\end{array}
\right|>0.
\end{equation*}
onde $\vec{u}=u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}$, $\vec{v}=v_1\vec{i}+v_2\vec{j}+v_3\vec{k}$ e $\vec{w}=w_1\vec{i}+w_2\vec{j}+w_3\vec{k}$. Faça o que se pede:
\begin{itemize}
\item [a)]Verifique que se $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ forma um sistema dextrogiro então $\vec{v}$, $\vec{u}$ e $\vec{w}$ é levogiro.
\item [b)]Verifique que se $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ forma um sistema dextrogiro então $\vec{v}$, $\vec{w}$ e $\vec{u}$ e $\vec{w}$, $\vec{u}$ e $\vec{v}$ são dextrogiros.
\item [c)]Verifique que o trio $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ é dextrogiro quando $\vec{u}=\vec{i}+\vec{j}$, $\vec{v}=-2\vec{i}+\vec{j}$ e $\vec{w}=\vec{i}+\vec{j}+\vec{k}$.
\item [d)]Verifique que o trio $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ é dextrogiro quando $\vec{u}=\vec{i}+\vec{j}$, $\vec{v}=-2\vec{i}+\vec{j}$ e $\vec{w}=\vec{i}$. Interprete graficamente.
\end{itemize}
\end{exer}
%\begin{exer} Seja $\vec{u}=u_1\vec{i} + u_2\vec{j} + u_3\vec{k}$ um vetor não nulo fixo e $\vec{v}=v\left(\sin\theta \cos\varphi \vec{i}+ \sin\theta \sin\varphi \vec{j} + \cos\theta \vec{k}\right)$ um vetor de norma fixa. Considere a função $m(\varphi,\theta)=\|\vec{u}+\vec{v}\|$ e encontre o valor máximo e mínimo de $m(\varphi,\theta)$. Interprete o resultado.
%\end{exer}
\begin{figure}%[20\baselineskip]
\begin{center}
\includegraphics{./cap_algvet/figs/latitude_longitude2}
\caption{Representação gráfica do sistema de coordenadas geográficas.}
\label{fig:latlong}
\end{center}
\end{figure}
\begin{exer}
Considere um sistema de coordenadas cartesianas dextrogiro construído da seguinte forma:
\begin{itemize}
\item O centro da Terra coincide com a origem do sistema.
\item O extremo norte da Terra intercepta o eixo $z$ em valores positivos.
\item O observatório de Greenwich está sob plano $xz$ com $x>0$.
\end{itemize}
Considere a superfície terrestre com uma esfera de raio $R_{\oplus}$. Denote a longitude\index{longitude} por $\lambda$ e a latitude\index{latitude} por $\phi$. Convecione como positivas a longitude leste e a latitude norte. Veja figura \ref{fig:latlong}. Seja $\vec{r}=x\vec{i}+y\vec{j}+z\vec{k}$ o vetor que representa um ponto sobre a superfície da Terra. Responda:
\begin{itemize}
\item[a)] Qual a norma do vetor $\vec{r}$?
\item[b)] Qual é o valor da componentes $x$, $y$ e $z$ de $\vec{r}$ em termos de $\lambda$ e $\phi$?
\item[c)] Seja $d$ a distância entre dois pontos sobre a superfície terrestre. Use a lei dos cossenos\footnote{Seja um triângulo de lados $a$, $b$ e $c$ e seja $\theta$ o ângulo entre os lados de comprimento $a$ e $b$, então $c^2=a^2+b^2-2ab\cos\theta.$ Ver também figura \ref{leicossenos} na página \pageref{leicossenos}.} para mostrar que distância $\delta$ sobre a superfície esférica entre esses mesmos dois pontos é dada por
$$\delta=R_\oplus \cos^{-1}\left(1-\frac{d^2}{2R_\oplus^2}\right)$$
Interprete os casos particulares $d=0$ e $d=2R_\oplus$.
\item[d)] Considerando $R_\oplus=6378Km$ e os seguintes valores para as coordenadas geográficas de Porto Alegre, Londres e Tóquio, construa uma tabela com os valores de $\lambda$ e $\phi$ e as coordenadas $xyz$ em quilômetros de cada uma dessas cidades.
\begin{table}[h]
\centering
\begin{tabular}{|l|l|l|}
\hline
Localidade & Latitude & Longitude\\
\hline
Porto Alegre & $30^\circ~ 01{'}~58{''}$S & $51^\circ 13{'}~48{''}$O\\
\hline
Londres & $51^\circ~ 30{'}~28{''}$N & $0^\circ~ 7{'}~41{''}$O\\
\hline
Tóquio & $35^\circ~ 41{'}~22{''}$N & $139^\circ ~41{'}~30{''}$L\\
\hline
\end{tabular}
\caption{Coordenadas geográficas de algumas cidades.}
\label{tabcidades}
\end{table}
\item[e)] Construa uma tabela com as distâncias em linha reta e sobre a superfície da Terra entre cada uma dessas cidades.
\item[f)] As seguintes coordenadas indicam locais de grande importância cultural ou turística, identifique-os:
\begin{table}[htp]
\centering
\begin{tabular}{|l|l|l|l|}
\hline
Localidade & x & y & z\\
\hline
1& 4192,872Km & 168Km & 4803,175Km\\
\hline
2& 1175,603Km& 5550,889Km& 2912,813Km\\
\hline
3& 3996,282Km& -127,418Km& 4969,143Km\\
\hline
\end{tabular}
\caption{Coordenadas geográficas de três localidades incógnitas.}
\label{tabmonumentos}
\end{table}
\end{itemize}
\end{exer}
%
% \begin{figure}[h]
% \begin{center}
% \includegraphics[width=.6\linewidth]{./cap_algvet/figs/latitude_longitude2}
% \caption{Representação gráfica do sistema de coordenadas geográficas.}
% \label{fig:latlong}
% \end{center}
% \end{figure}
\begin{table}[h]
Resp: a) $r=R_\oplus$ b)
$x=R_\oplus \cos\phi \cos\lambda$, $y=R_\oplus \cos\phi\sin\lambda$ e $z=R_\oplus \sin\phi$
\centering
\begin{tabular}{|l|l|l|l|l|l|}
\hline
Localidade & $\phi$ & $\lambda$ & $x$ & $y$ & $z$\\
\hline
Porto Alegre & $-30,0328^\circ$ & $-51,23^\circ$& $3457,65$&$-4305,07$& $-3192,16$\\
\hline
Londres & $51,5078^\circ$ & $-0,0781^\circ$&3969,71&-5,41&4992,02\\
\hline
Tóquio & $35,6894^\circ$ & $139,6917^\circ$&3950,26&3351,05&3720,87\\
\hline
\end{tabular}
\caption{Coordenadas geográficas e cartesianas de algumas cidades - solução do item d.}
\vspace{10pt}
\begin{tabular}{|l|l|l|}
\hline
Localidades & Distância em linha reta & Distância sobre a superfície esférica \\
\hline
Porto Alegre-Londres & 9260Km & 10360Km\\
\hline
Porto Alegre-Tóquio & 12700Km&18840Km\\
\hline
Tóquio-Londres &8695Km &9570Km\\
\hline
\end{tabular}
\caption{Distância entre as cidades - solução do item e.}
\vspace{10pt}
\begin{tabular}{|l|l|l|l|}
\hline
Localidade & $\lambda$ & $\phi$& Identificação\\
\hline
1& $48^\circ 51{'}30{''}$N & $0^\circ 02{'}24{''}$L & \\
\hline
2& $27^\circ 10{'}27{''}$N & $0^\circ 58{'}42{''}$L & \\
\hline
3& $51^\circ 10{'}44{''}$N & $0^\circ 01{'}55{''}$W& \\
\hline
\end{tabular}
\caption{Solução do item f}
\end{table}
%***********************************************************************************
\section{Ângulo entre vetores e o produto escalar}\index{produto escalar}
Na seção anterior, começamos a trabalhar com vetores no espaço euclidiano. No entanto, até o momento não lidamos explicitamente com ângulos entre vetores. Introduziremos primeiramente o conceito de produto escalar ou produto interno entre vetores. O produto escalar\index{produto escalar} é uma operação que liga um par de vetores a um escalar. O produto escalar entre os vetores $\vec{u}$ e $\vec{v}$ é denotado por $\vec{u}\cdot \vec{v}$ e é definida no espaço euclidiano tridimensional como:
\begin{equation}\label{defprodesc}\vec{u}\cdot\vec{v}=u_1v_1+u_2v_2+u_3v_3\end{equation}
Considere os vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ relacionados por $$\vec{w}=\vec{u}-\vec{v}.$$
\begin{figure}\begin{center}
\includegraphics[width=\textwidth]{./cap_algvet/figs/cossenos} %
\caption{Lei dos cossenos: $\|\vec{w}\|^2=\|\vec{u}\|^2+\|\vec{v}\|^2-2~\!\|\vec{u}\|~\!\|\vec{v}\|\cos\theta$}\label{leicossenos}
\end{center}
\end{figure}
Este trio de vetores pode ser intepretado como os três lados de um triângulo como na figura \ref{leicossenos}. Da lei dos cossenos, sabemos que a seguinte relação é satisfeita:
$$w^2=u^2+v^2-2uv\cos\theta$$
supondo $u\neq 0$ e $v\neq 0$, temos
$$\cos\theta = \frac{u^2+v^2-w^2}{2uv}.$$
Usamos agora a definição de norma de um vetor dada em (\ref{defnorma}):
\begin{eqnarray*}
u^2&=&u_1^2+u_2^2+u_3^2\\
v^2&=&v_1^2+v_2^2+v_3^2\\
w^2&=&w_1^2+w_2^2+w_3^2=\left(u_1-v_1\right)^2+\left(u_2-v_2\right)^2+\left(u_3-v_3\right)^2\\
\end{eqnarray*}
Simplificando, temos:
$$\cos\theta = \frac{u^2+v^2-w^2}{2uv}=\frac{u_1v_1+u_2v_2+u_3v_3}{uv}=\frac{\vec{u}\cdot\vec{v}}{uv}$$
Esta última expressão nos permite escrever
\begin{equation}\label{defintriprodesc}
\vec{u}\cdot\vec{v}=uv\cos\left(\vec{u},\vec{v}\right)=uv\cos\theta
\end{equation}
onde $\cos\left(\vec{u},\vec{v}\right)$ indica o cosseno do ângulo entre os vetores $\vec{u}$ e $\vec{v}$.
\begin{obs}Neste momento, o leitor deve observar que a definição que demos originalmente para o produto escalar em (\ref{defprodesc}) dependia fortemente do sistema de coordenadas escolhido. No entanto, a identidade (\ref{defintriprodesc}) mostra que o valor do produto escalar depende apenas da norma dos vetores envolvidos e do ângulo entre esses vetores, ou seja, (\ref{defintriprodesc}) pode ser usado como uma definição intrínseca (que não depende da escolha do sistema de coordenadas) de produto escalar. \end{obs}
\begin{obs}O produto escalar do vetor nulo $\vec{0}$ por qualquer vetor é zero.\end{obs}
O produto escalar satisfaz as seguintes propriedades:
%\begin{formulario}
\begin{subequations}\label{proprodesc}
\begin{align}
\vec{u}\cdot\vec{v}&=\vec{v}\cdot\vec{u},&\text{(Comutatividade)}\label{propprodesccom}\\
\vec{u}\cdot\left(\alpha\vec{v}+\beta \vec{w}\right)&=\alpha(\vec{u}\cdot\vec{v})+\beta(\vec{u}\cdot\vec{w}),\hspace{-5cm}&\text{(Linearidade)}\label{propprodesclin}\\
\vec{u}\cdot\vec{u}&=u^2,&\text{(Respeito à norma)}\label{propprodescnorma}\\
\left|\vec{u}\cdot\vec{v}\right|&\leq uv,&\text{(Desigualdade de Cauchy-Schwarz)}\label{propprodesccauchy}
\end{align}
\end{subequations}
%\end{formulario}
As propriedades (\ref{propprodesccom}), (\ref{propprodesclin}) e (\ref{propprodescnorma}) podem ser trivialmente demonstradas diretamente a partir da definição de produto escalar dada em (\ref{defprodesc}).
\begin{exer} Demonstre essas três propriedades.
\end{exer}
Observe que $\alpha(\vec{u}\cdot\vec{v})=(\alpha~\!\vec{u})\cdot\vec{v}$ pelo que podemos escrever $\alpha~\!\vec{u}\cdot\vec{v}$ sem risco de ambiguidade.
\begin{exer} Use (\ref{propprodesccom}) e (\ref{propprodesclin}) para mostrar a seguinte propriedade:
$$
\left(\alpha\vec{u}+\beta \vec{v}\right)\cdot \vec{w}=\alpha (\vec{u}\cdot\vec{w})+ \beta (\vec{v}\cdot\vec{w})
$$
\end{exer}
~~ \\
A \underline{desigualdade de Cauchy-Schwarz}\index{desigualdade de Cauchy-Schwarz} (\ref{propprodesccauchy}) pode ser demonstrada a partir de (\ref{defintriprodesc}) uma vez que $$-1\leq \cos\theta \leq 1.$$
No entanto, uma demonstração puramente algébrica pode ser dada a partir das propriedades (\ref{propprodesccom}), (\ref{propprodesclin}) e (\ref{propprodescnorma}). Dada a beleza desta demonstração e da possibilidade de generalização, apresentamo-na a seguir:
Consideramos primeiramente os versores $\hat{u}$ e $\hat{v}$ definidos em (\ref{defversor}) e calculamos
\begin{eqnarray*}
\|\hat{u}+\hat{v}\|^2 &=& \left(\hat{u}+\hat{v}\right)\cdot \left(\hat{u}+\hat{v}\right) = 2+2\hat{u}\cdot\hat{v} \\
\|\hat{u}-\hat{v}\|^2 &=& \left(\hat{u}-\hat{v}\right)\cdot \left(\hat{u}-\hat{v}\right) = 2-2\hat{u}\cdot\hat{v}
\end{eqnarray*}
onde usamos que $\hat{u}\cdot\hat{u}=\hat{v}\cdot\hat{v}=1$ posto que a norma de um versor é sempre 1. Agora observamos que $\|\hat{u}+\hat{v}\|^2\geq 0 $ e $\|\hat{u}-\hat{v}\|^2\geq 0 $, pelo que temos:
$$-1\leq \hat{u}\cdot\hat{v} \leq 1$$
O que implica $|\hat{u}\cdot\hat{v}|\leq 1$. Como $\vec{u}=u\hat{u} $ e $\vec{v}=v\hat{v}$, temos
$$|\vec{u}\cdot\vec{v}|\leq uv$$
Observamos que com uma demontração puramente algébrica para a desigualdade de Cauchy-Schwarz, podemos derivar uma demonstração puramente algébrica da \underline{desigualdade triangular} (\ref{propnormatri}). Ver também a discussão do excício \ref{exnorma}. Para tal considere a seguinte identidade:
$$\|\vec{u}+\vec{v}\|^2=\left(\vec{u}+\vec{v}\right)\cdot \left(\vec{u}+\vec{v}\right) = u^2+2\vec{u}\cdot\vec{v}+v^2$$
Como $\vec{u}\cdot\vec{v}\leq |\vec{u}\cdot\vec{v}|\leq uv$, temos:
$$\|\vec{u}+\vec{v}\|^2\leq u^2+2uv+v^2=(u+v)^2$$
Extraindo a raiz quadrada de ambos os lados, temos:
$$\|\vec{u}+\vec{v}\|\leq (u+v)=\|\vec{u}\|+\|\vec{v}\|$$
\\~\\
Dois vetores não nulos $\vec{u}$ e $\vec{v}$ são dito ortogonais\index{vetores ortogonais} se o ângulo entre eles é $90^\circ$, ou seja, se $\cos\left(\vec{u},\vec{v}\right)=0$. De (\ref{defintriprodesc}), isto acontece quando $\vec{u}\cdot\vec{v}=0$. Usamos o símbolo $\bot$ para denotar a ortogonalidade:
\begin{eqnarray}\vec{u}\bot \vec{v}\Longleftrightarrow \vec{u}\cdot\vec{v}=0\label{deforto}
\end{eqnarray}
Em especial os vetores unitários $\vec{i}$, $\vec{j}$ e $\vec{k}$ são ortogonais, ou seja: $$\vec{i}\cdot \vec{j}=\vec{i}\cdot \vec{k}=\vec{j}\cdot \vec{k}=0.$$
\subsection*{Exercícios resolvidos}
\construirExeresol
\subsection*{Exercícios}
\begin{exer} Considere os vetores dados por $\vec{u}=\vec{i}+\vec{j}$, $\vec{v}=\vec{i}+2\vec{j}$ e $\vec{w}=\frac{1}{3}\vec{i}+\frac{1}{2}\vec{j}$ conforme exercício \ref{ex1uvw}. Calcule o ângulo entre esses vetores.
\end{exer}
Resp: $18,43^\circ$, $11,3^\circ$ e $7,13^\circ$
\begin{exer} Mostre que se $\alpha$ e $\beta$ são escalares diferentes de zero e $\vec{u}$ e $\vec{v}$ são vetores não nulos, então $$\cos\left(\alpha\vec{u},\beta\vec{v}\right)=\cos\left(\vec{u},\vec{v}\right).$$
Interprete geometricamente esta identidade.
\end{exer}
\begin{exer}Mostre que se $\vec{u}=u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}$ então $u_1=\vec{u}\cdot\vec{i}$, $u_2=\vec{u}\cdot\vec{j}$ e $u_3=\vec{u}\cdot\vec{k}$. Conclua que
$$\vec{u}=\left(\vec{u}\cdot\vec{i}\right) \vec{i}+\left(\vec{u}\cdot\vec{j}\right) \vec{j}+\left(\vec{u}\cdot\vec{k}\right) \vec{k}.$$
\end{exer}
\begin{exer}\label{exort1}Sejam $\vec{u}=\frac{\sqrt{2}}{2}\left(\vec{i}+\vec{j}\right)$ e $\vec{v}=\frac{\sqrt{2}}{2}\left(\vec{i}-\vec{j}\right)$. Mostre que estes vetores são unitários e ortogonais entre si. Encontre dois vetores unitários distintos ortogonais tanto a $\vec{u}$ quanto a $\vec{v}$.
\end{exer}
Resp: $-\vec{k}$ e $\vec{k}$.
\begin{exer}\label{exort2} Sejam $\vec{u}=2\vec{i}+\vec{j}+\vec{k}$ e $\vec{v}=2\vec{i}-\vec{j}-\vec{k}$. Mostre que estes vetores são ortogonais entre si. Encontre dois vetores unitários distintos ortogonais tanto a $\vec{u}$ como a $\vec{v}$.
\end{exer}
Resp: $\frac{\sqrt{2}}{2}\left(\vec{j}-\vec{k}\right)$ e $\frac{\sqrt{2}}{2}\left(-\vec{j}+\vec{k}\right)$.
\begin{exer} Encontre três vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ tais que:
\begin{itemize}
\item [a)] $\left(\vec{u}\cdot\vec{v}\right)\vec{w}=\vec{0}$ mas $\vec{u}\left(\vec{v}\cdot\vec{w}\right)\neq \vec{0}$
\item [b)] $\left(\vec{u}\cdot\vec{v}\right)\vec{w}\neq \vec{u}\left(\vec{v}\cdot\vec{w}\right)$ e ambos não nulos.
\end{itemize}
\end{exer}
Exemplos de respostas: a) $\vec{u}=\vec{i}$, $\vec{v}=\vec{j}$ e $\vec{w}=\vec{j}$. b) $\vec{u}=\vec{i}$, $\vec{v}=\vec{i}+\vec{j}$ e $\vec{w}=\vec{j}$.
\begin{exer} Sejam os vetores $\vec{u}=\cos(\theta_1)\vec{i}+\sin(\theta_1)\vec{j}$ e $\vec{v}=\cos(\theta_2)\vec{i}+\sin(\theta_2)\vec{j}$ então
$$\cos\left(\vec{u},\vec{v}\right)=\cos(\theta_1-\theta_2).$$
Conclua que o ângulo $\theta$ entre $\vec{u}$ e $\vec{v}$ é dado por
$$\theta=\left\{
\begin{array}{ll}
|\theta_1-\theta_2|,& |\theta_1-\theta_2|\leq 180^\circ\\
360^\circ-|\theta_1-\theta_2|,& |\theta_1-\theta_2|> 180^\circ\\
\end{array}
\right.$$
contanto que $\theta_1$ e $\theta_2$ estejam entre $0$ e $360^\circ$.
Interprete geometricamente este resultado.
\end{exer}
\begin{exer}Seja $\vec{u}$ um vetor não nulo fixo e $\vec{v}$ um vetor de norma não nula fixa. Mostre que $\|\vec{u}+\vec{v}\|$ tem um ponto de máximo quando $\hat{u}=\hat{v}$ e um ponto de mínimo quando $\hat{u}=-\hat{v}$. Interprete o resultado geometricamente e compare com o problema (\ref{probmaxmin}).
\end{exer}
Dica: $\|\vec{u}+\vec{v}\|^2=u^2+v^2+2\vec{u}\cdot\vec{v}$ e (\ref{defintriprodesc}).
%***********************************************************************************
\section{O produto vetorial}\index{produto vetorial}
Além do produto escalar entre vetores, definimos também o produto vetorial\index{produto vetorial}. Enquanto o produto escalar de dois vetores é um escalar, o produto vetorial é um terceiro vetor. O produto vetorial entre $\vec{u}=u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}$ e $\vec{v}=v_1\vec{i}+v_2\vec{j}+v_3\vec{k}$ é denotado $\vec{u}\times\vec{v}$ e é definido em coordenadas cartesianas como:
\begin{equation}\label{defprodvec} \vec{u}\times\vec{v}=\left(u_2v_3-u_3v_2\right)\vec{i}+\left(u_3v_1-u_1v_3\right)\vec{j}+\left(u_1v_2-u_2v_1\right)\vec{k}
\end{equation}
A definição de produto vetorial pode parecer à primeira vista arbitrária e fortemente dependente do sistema de coordenadas escolhido. No entanto, mostraremos que o produto vetorial admite uma formulação intrínseca, ou seja, que não depende do sistema de coordenadas escolhido. Ademais, veremos que tanto o produto escalar como o produto vetorial surgem naturalmente no estudo da física clássica.
O produto vetorial possui as seguintes propriedades:
\begin{subequations}\label{propprodvec}
\begin{align}
\vec{u}\times\vec{v}&=-\vec{v}\times\vec{u},&\text{(Anticomutatividade)}\label{propprodvecanticom}\\
\left(\alpha \vec{u}+ \beta\vec{v}\right)\times\vec{w}&=\alpha\left(\vec{u}\times\vec{w}\right)+\beta\left(\vec{v}\times\vec{w}\right),&\text{(Linearidade à esquerda)}\label{propprodveclin1}\\
\vec{u}\times\left(\alpha \vec{v}+ \beta\vec{w}\right)&=\alpha\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)+\beta\left(\vec{u}\times\vec{w}\right),&\text{(Linearidade à direita)}\label{propprodveclin2}\\
\left(\vec{u}\times \vec{v}\right)\cdot \vec{u}&=\left(\vec{u}\times \vec{v}\right)\cdot \vec{v}=0,&\text{(Ortogonalidade)}\label{propprodvecorto}\\
\left\|\vec{u}\times \vec{v}\right\|&=uv\sin(\vec{u},\vec{v})
.&\text{(Norma)}\label{propprodvecnorma}\\
\det\left(\vec{u}; \vec{v};\vec{u}\times \vec{v}\right)&=u^2v^2\sin^2(\vec{u},\vec{v})>0
.&\text{(Orientação dextrogira)}\label{propprodvecorient}
\end{align}
\end{subequations}
Nas duas últimas propriedades, $\sin(\vec{u},\vec{v})$ denota o seno do ângulo entre os vetores $\vec{u}$ e $\vec{v}$. Observa-se que quando $\vec{u}$ ou $\vec{v}$ é nulo, este ângulo não está bem definido, estas identidades devem ser então interpretadas como $\left\|\vec{u}\times \vec{v}\right\|=0$ e $\det\left(\vec{u}; \vec{v};\vec{u}\times \vec{v}\right)=0$.
A última propriedade significa que o trio $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{u}\times\vec{v}$ forma um sistema dextrogiro.
\begin{exer} Mostre as propriedades (\ref{propprodvecanticom}), (\ref{propprodveclin1}) e (\ref{propprodveclin2}).
\end{exer}
A propriedade da ortogonalidade pode ser demonstrada diretamente da definição de produto vetorial e produto escalar:
\begin{eqnarray*}\left(\vec{u}\times \vec{v}\right)\cdot \vec{u}&=&\left[\left(u_2v_3-u_3v_2\right)\vec{i}+\left(u_3v_1-u_1v_3\right)\vec{j}+\left(u_1v_2-u_2v_1\right)\vec{k}\right]\left(u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}\right)\\
&=&\left(u_2v_3-u_3v_2\right)u_1+\left(u_3v_1-u_1v_3\right)u_2+\left(u_1v_2-u_2v_1\right)u_3=0
\end{eqnarray*}
igualmente temos:
\begin{eqnarray*}\left(\vec{u}\times \vec{v}\right)\cdot \vec{v}&=&\left[\left(u_2v_3-u_3v_2\right)\vec{i}+\left(u_3v_1-u_1v_3\right)\vec{j}+\left(u_1v_2-u_2v_1\right)\vec{k}\right]\left(v_1\vec{i}+v_2\vec{j}+v_3\vec{k}\right)\\
&=&\left(u_2v_3-u_3v_2\right)v_1+\left(u_3v_1-u_1v_3\right)v_2+\left(u_1v_2-u_2v_1\right)v_3=0
\end{eqnarray*}
Para provar a propriedade (\ref{propprodvecnorma}), mostraremos primeiramente a seguinte (interessante) identidade:
\begin{equation}\label{identnorma}\left\|\vec{u}\times \vec{v}\right\|^2+\left|\vec{u}\cdot \vec{v}\right|^2=u^2v^2
\end{equation}
Da definição de norma e de produto vetorial temos:
\begin{eqnarray}\label{calcnormaprodvec}
\left\|\vec{u}\times \vec{v}\right\|^2&=&\left\|\left(u_2v_3-u_3v_2\right)\vec{i}+\left(u_3v_1-u_1v_3\right)\vec{j}+\left(u_1v_2-u_2v_1\right)\vec{k}\right\|^2\nonumber\\
&=&\left(u_2v_3-u_3v_2\right)^2+\left(u_3v_1-u_1v_3\right)^2+\left(u_1v_2-u_2v_1\right)^2\nonumber\\
&=&\left(u_2^2v_3^2-2u_2u_3v_2v_3+u_3^2v_2^2\right)+\left(u_3^2v_1^2-2u_1u_3v_1v_3+u_1^2v_3^2\right) \nonumber\\
&+&\left(u_1^2v_2^2-2u_1u_2v_1v_2+u_2^2v_1^2\right).
\end{eqnarray}
Da definição de norma e de produto escalar temos:
\begin{eqnarray*}
\left|\vec{u}\cdot \vec{v}\right|^2&=&\left(u_1v_1+u_2v_2+u_3v_3\right)^2=u_1^2v_1^2+u_2^2v_2^2+u_3^2v_3^2+2u_1u_2v_1v_2+2u_1u_3v_1v_3+2u_2u_3v_2v_3.
\end{eqnarray*}
Somando estas últimas duas expressões, simplificando e reagrupando termos, chegamos ao resultado desejado:
\begin{eqnarray*}
\left\|\vec{u}\times \vec{v}\right\|^2+\left|\vec{u}\cdot \vec{v}\right|^2&=&\left(u_1v_1+u_2v_2+u_3v_3\right)^2\\
&=&u_1^2v_1^2+u_1^2v_2^2+u_1^2v_3^2+u_2^2v_1^2+u_2^2v_2^2+u_2^2v_3^2+u_3^2v_1^2+u_3^2v_2^2+u_3^2v_3^2\\
&=&\left(u_1^2+u_2^2+u_3^2\right)\left(v_1^2+v_2^2+v_3^2\right)=u^2v^2.
\end{eqnarray*}
Agora que dispomos da identidade (\ref{identnorma}), usamos (\ref{defintriprodesc}) para escrever
\begin{equation*}\left\|\vec{u}\times \vec{v}\right\|^2=u^2v^2-\left|\vec{u}\cdot \vec{v}\right|^2=u^2v^2-\left[uv\cos\left(\vec{u},\vec{v}\right)\right]^2=u^2v^2\left[1-\cos^2\left(\vec{u},\vec{v}\right)\right]=u^2v^2\sin^2\left(\vec{u},\vec{v}\right)
\end{equation*}
Extraímos a raiz quadrada, observando que $\sin\left(\vec{u},\vec{v}\right)\geq 0$ e obtemos o resultado desejado (\ref{propprodvecnorma}).
Um caso particular importante é quando os vetores $\vec{u}$ e $\vec{v}$ estão na mesma direção. Como $\sin 0= \sin 180^\circ=0$, o produto vetorial de dois vetores paralelos é $\vec{0}$.
Para demonstrar a propriedade (\ref{propprodvecorient}), calculamos o determinante envolvido
\begin{eqnarray*}
\det\left(\vec{u};\vec{v};\vec{u}\times\vec{v}\right)&=&\left|
\begin{array}{ccc}
u_1 & v_1 & \left(u_2v_3-u_3v_2\right)\\
u_2 & v_2 & \left(u_3v_1-u_1v_3\right)\\
u_3 & v_3 & \left(u_1v_2-u_2v_1\right)
\end{array}
\right|\\
&=&\left(u_1^2v_2^2-u_1u_2v_1v_2\right)+\left(u_3^2v_1^2-u_1u_3v_1v_3\right)+\left(u_2^2v_3^2-u_2u_3v_2v_3\right)\\
&-&\left(u_1u_2v_1v_2-u_2^2v_1^2\right)-\left(u_1u_3v_1v_3-u_1^2v_3^2\right)-\left(u_2u_3v_2v_3-u_3^2v_2^2\right)
\end{eqnarray*}
\begin{figure}%[-30\baselineskip]
\includegraphics[width=\textwidth]{./cap_algvet/figs/R_mao_dir.eps}
\caption{Regra da mão direita. }
%\label{fig:marginfig}
%\setfloatalignment{b}% forces caption to be bottom-aligned
\end{figure}
Agora basta observar que esta expressão é idêntica a (\ref{calcnormaprodvec}), ou seja, $\|\vec{u}\times\vec{v}\|^2$ e portanto o determinante $\det\left(\vec{u};\vec{v};\vec{u}\times\vec{v}\right)$ é positivo.
A importância desta propriedade está no fato que se $\vec{w}=\vec{u}\times \vec{v}$ então o trio de vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ forma um sistema dextrogiro. Além disso, por causa da propriedade (\ref{propprodvecorto}), $\vec{w}$ deve ser ortogonal tanto aos vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$. Finalmente, observando a propriedade da norma (\ref{propprodvecnorma}), podemos estabelecer a seguinte identidade para o produto vetorial de dois vetores não colineares $\vec{u}$ e $\vec{v}$:
\begin{equation}
\vec{u}\times\vec{v}=uv\sin\left(\vec{u},\vec{v}\right)\hat{e}
\end{equation}
onde o versor $\hat{e}$ é ortogonal ao plano gerado por $\vec{u}$ e $\vec{v}$ e forma um sistema dextrogiro com eles.
\begin{figure}%[10\baselineskip]
\begin{center}
\includegraphics[width=\textwidth]{./cap_algvet/figs/prod_vec_paralelogramo}
\caption{Interpretação geométrica do produto vetorial.}\label{fig:prod_paralelo}
%\label{fig:marginfig}
%\setfloatalignment{b}% forces caption to be bottom-aligned
\end{center}
\end{figure}
A norma do produto vetorial entre os vetores $\vec{u}$ e $\vec{v}$ pode ser interpretada como a área do paralelogramo cujos lados são $\vec{u}$ e $\vec{v}$ (ver figura \ref{fig:prod_paralelo}. A direção do produto vetorial é então ortogonal ao plano gerado por $\vec{u}$ e $\vec{v}$ e o sentido é dado pela regra da mão direita.
%\begin{figure}[h!]
% \begin{center}
% \vspace{-20pt}
%\includegraphics[width=0.5\textwidth]{./cap_algvet/figs/prod_vec_mao_dir}
% \end{center}
%\vspace{-20pt}
%\caption{Interpretação geométrica do produto vetorial.}\label{prod_paralelo}
%\end{figure}
A definição de produto vetorial dada em (\ref{defprodvec}) pode ser mais facilmente lembrada através do seguinte determinante formal:
\begin{equation}\label{detprodvec}
\vec{u}\times\vec{v}=\left|\begin{array}{ccc}
\vec{i}&\vec{j}&\vec{k}\\
u_1 & u_2 & u_3\\
v_1 & v_2 & v_3\\
\end{array}
\right|
\end{equation}
que pode ser calculado pela regra de Sarrus.
O produto vetorial entre os vetores unitários $\vec{i}$, $\vec{j}$ e $\vec{k}$ pode ser obtido da definição (\ref{defprodvec}) ou da caracterização geométrica do produto vetorial:
\begin{align}\label{prodvecunit}
\vec{i}\times \vec{i}&=\vec{0},\qquad & \vec{i}\times \vec{j}&=\vec{k},\qquad &\vec{i}\times \vec{k}&=-\vec{j}\nonumber\\
\vec{j}\times \vec{i}&=-\vec{k},\qquad & \vec{j}\times \vec{j}&=\vec{0},\qquad& \vec{j}\times \vec{k}&=\vec{i}\nonumber\\
\vec{k}\times \vec{i}&=\vec{j},\qquad &\vec{k}\times \vec{j}&=-\vec{i},\qquad &\vec{k}\times \vec{k}&=\vec{0}
\end{align}
\subsection*{Exercícios resolvidos}
\begin{exer} Seja $\vec{u}=\vec{i}+2\vec{j}$ e $\vec{v}=3\vec{i}-2\vec{j}$, calcule o vetor $\vec{w}=\vec{u}\times\vec{v}$.
\end{exer}
\begin{resol}
\noindent{\bf Primeira forma:} Calcularemos primeiramente usando o determinante (\ref{detprodvec}):
\begin{eqnarray*}\vec{w}&=&\left|\begin{array}{ccc}
\vec{i}&\vec{j}&\vec{k}\\
u_1 & u_2 & u_3\\
v_1 & v_2 & v_3\\
\end{array}
\right|=\left|\begin{array}{ccc}
\vec{i}&\vec{j}&\vec{k}\\
1 & 2 & 0\\
3 & -2& 0\\
\end{array} \right|\\
&=&\vec{i}(0-0)+\vec{j}(0-0)+\vec{k}(-2-6)\\
&=&-8\vec{k}
\end{eqnarray*}
\noindent{\bf Segunda forma:} Calcularemos usando as propriedades (\ref{propprodvec}) e as relações (\ref{prodvecunit}):
\begin{eqnarray*}\vec{w}&=&\vec{u}\times\vec{v}= \left(\vec{i}+2\vec{j}\right)\times\left(3\vec{i}-2\vec{j}\right)\\
&=&3(\vec{i}\times\vec{i})-2(\vec{i}\times\vec{j})+6(\vec{j}\times\vec{i})-4(\vec{j}\times\vec{j})\\
&=&3~\!\vec{0}-2~\!\vec{k}-6~\!\vec{k}-4~\!\vec{0}\\
&=&-8\vec{k}
\end{eqnarray*}
\end{resol}
\construirExeresol
\subsection*{Exercícios}
\construirExer
\begin{exer} Refaça os exercícios \ref{exort1} e \ref{exort2} usando o conceito de produto vetorial.
\end{exer}
\begin{exer}\label{prodvecnaoassoc} Encontre três vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ tais que $\vec{u}\times\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)\neq \left(\vec{u}\times\vec{v}\right)\times \vec{w}$.
\end{exer}
Exemplo de resposta: $\vec{u}=\vec{i}$, $\vec{v}=\vec{i}$ e $\vec{w}=\vec{k}$.
\begin{exer} Simplifique as seguintes expressões:
\begin{itemize}
\item[a)] $\vec{u}\times\vec{u}$
\item[b)] $\vec{u}\times\hat{u}$
\item[c)] $\vec{u}\cdot\vec{u}$
\item[d)] $\vec{u}\cdot\hat{u}$
\item[e)] $\left(\vec{u}+\vec{v}\right)\cdot\left(\vec{u}+\vec{v}\right)$
\item[f)] $\left(\vec{u}+\vec{v}\right)\times\left(\vec{u}+\vec{v}\right)$
\item[g)] $\left(\vec{u}-\vec{v}\right)\cdot\left(\vec{u}-\vec{v}\right)$
\item[h)] $\left(\vec{u}-\vec{v}\right)\times\left(\vec{u}-\vec{v}\right)$
\item[i)] $\left(\vec{u}+\vec{v}\right)\cdot\left(\vec{u}-\vec{v}\right)$
\item[j)] $\left(\vec{u}+\vec{v}\right)\times\left(\vec{u}-\vec{v}\right)$
\end{itemize}
\end{exer}
Resp: $\vec{0}$,$\vec{0}$,$u^2$,$u$,$u^2+2\vec{u}\cdot\vec{v}+v^2$, $\vec{0}$, $u^2-2\vec{u}\cdot\vec{v}+v^2$, $\vec{0}$, $u^2-v^2$, $2\vec{v}\times\vec{u}$
\begin{exer} Mostre que $\vec{u}\cdot \left(\vec{v}\times\vec{w}\right)=\det\left(\vec{u};\vec{v};\vec{w}\right)$. Conclua que o trio de vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$ forma um sistema dextrogiro se $\vec{u}\cdot \left(\vec{v}\times\vec{w}\right)>0$ e levogiro se $\vec{u}\cdot \left(\vec{v}\times\vec{w}\right)<0$. Interprete geometricamente.
\end{exer}
%***********************************************************************************
\section{Os triplos produtos e outras identidades vetoriais}\index{triplo produto}\index{identidades vetoriais}
O triplo produto escalar\index{triplo produto escalar} é definido por um produto vetorial e um produto escalar, isto é:
\begin{equation}
\vec{u}\cdot (\vec{v}\times \vec{w}).
\end{equation}
Em coordenadas cartesianas, podemos escrever o triplo produto vetorial como:
\begin{eqnarray*}
\left(u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}\right)\cdot \left[\left(v_1\vec{i}+v_2\vec{j}+v_3\vec{k}\right)\times \left(w_1\vec{i}+w_2\vec{j}+w_3\vec{k}\right)\right].
\end{eqnarray*}
Agora, usando a definição em cartesianas do produto vetorial dada na equação (\ref{defprodvec}), substituindo $\vec{u}$ e $\vec{v}$ por $\vec{v}$ e $\vec{w}$, respectivamente, isto é:
\begin{equation*} \vec{v}\times\vec{w}=\left(v_2w_3-v_3w_2\right)\vec{i}+\left(v_3w_1-v_1w_3\right)\vec{j}+\left(v_1w_2-v_2w_1\right)\vec{k}.
\end{equation*}
Obtemos:
\begin{eqnarray}\label{dettriploprod}
\vec{u}\cdot (\vec{v}\times \vec{w})
%&=&\left(u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}\right)\cdot \left[\left(v_2w_3-v_3w_2\right)\vec{i}+\left(v_3w_1-v_1w_3\right)\vec{j}+\left(v_1w_2-v_2w_1\right)\vec{k}\right]\nonumber\\
&=&u_1\left(v_2w_3-v_3w_2\right)+u_2\left(v_3w_1-v_1w_3\right)+u_3\left(v_1w_2-v_2w_1\right)\nonumber\\
&=&\left(u_1v_2w_3-u_1v_3w_2\right)+\left(u_2v_3w_1-u_2v_1w_3\right)+\left(u_3v_1w_2-u_3v_2w_1\right)\nonumber\\
&=&
\left|\begin{array}{ccc}
u_1&u_2&u_3\\
v_1&v_2&v_3\\
w_1&w_2&w_3
\end{array}
\right|=\det\left(\vec{u},\vec{v},\vec{w}\right)
\end{eqnarray}
\begin{obs}Assim como o produto vetorial possui uma interpretação geométrica importante, a intepretação geométrica do triplo produto escalar está relacionado com o paralelepípedo formado pelos vetores $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$, ver figura (\ref{fig:volume_determinante}). O módulo é o volume do paralepípedo e o sinal é dado pela orientação do trio $\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$: positivo ou negativo para as orientações dextrogira ou levogira, respectivamente. \end{obs}
\begin{figure}%[.5\baselineskip]
\begin{center}
\includegraphics{./cap_algvet/figs/volume_determinante}
\caption{Representação do paralelepípedo formado por três vetores.}\label{fig:volume_determinante}
\end{center}\end{figure}
O triplo produto escalar pode, portanto, ser calculado pelo determinante da matriz formada pelas componentes dos três vetores envolvidos. A expressão do triplo produto escalar como o determinante dos três vetores poderia ter sido mais rapidamente obtido usando (\ref{detprodvec}) o determinante formal que, alternativamente, define o produto vetorial:
\begin{equation}
\vec{u}\cdot (\vec{v}\times \vec{w})
=\left(u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}\right)\cdot\left|\begin{array}{ccc}
\vec{i}&\vec{j}&\vec{k}\\
v_1 & v_2 & v_3\\
w_1 & w_2 & w_3\\
\end{array}
\right|=\left|\begin{array}{ccc}
u_1&u_2&u_3\\
v_1&v_2&v_3\\
w_1&w_2&w_3
\end{array}
\right|
\end{equation}
Sabemos que quando permutamos duas linhas de uma matriz, seu determinante muda de sinal, pelo que podemos obter as seguintes relações:
\begin{eqnarray*}
\vec{u}\cdot\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)&=&-\vec{v}\cdot\left(\vec{u}\times\vec{w}\right)=\vec{v}\cdot\left(\vec{w}\times\vec{u}\right)\\
&=&-\vec{w}\cdot\left(\vec{v}\times\vec{u}\right)=\vec{w}\cdot\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)=-\vec{u}\cdot\left(\vec{w}\times\vec{v}\right)
\end{eqnarray*}
Extraindo apenas os termos de ordem ímpar temos:
\begin{equation}\label{triploprodutoescalar} \vec{u}\cdot\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)=\vec{v}\cdot\left(\vec{w}\times\vec{u}\right)=\vec{w}\cdot\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)
\end{equation}
\begin{obs} Um caso particular interessante é quando escolhemos $\vec{w}=\vec{u}\times\vec{v}$ e obtemos:
\begin{equation*}
\det\left(\vec{u},\vec{v},\vec{u}\times\vec{v}\right)=\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)\cdot\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)=\|\vec{u}\times\vec{v}\|^2.
\end{equation*}
Assim, retornamos à expressão (\ref{propprodvecorient}).
\end{obs}
Podemos igualmente definir o triplo produto vetorial como o produto vetorial de um vetor pelo produto vetorial de outros dois vetores, isto é:
$$\vec{u}\times \left(\vec{v}\times\vec{w}\right). $$
Observe cuidadosamente que o produto vetorial não é associativo, isto é, pode acontecer $\vec{u}\times \left(\vec{v}\times\vec{w}\right)\neq \left(\vec{u}\times \vec{v}\right)\times\vec{w} $ (ver problema \ref{prodvecnaoassoc}), portanto, a ordem dos vetores é relevante.2
Podemos mostrar que o triplo produto vetorial pode ser expresso como:
\begin{equation*}
\vec{u}\times\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)=\left(\vec{u}\cdot\vec{w}\right)\vec{v}-\left(\vec{u}\cdot\vec{v}\right)\vec{w}
\end{equation*}
Para verificar esta identidade, retornamos ao produto vetorial entre $\vec{v}$ e $\vec{w}$ em coordenadas cartesianas e o escrevemos como a diferença entre dois vetores:
\begin{eqnarray*} \vec{v}\times\vec{w}&=&\left(v_2w_3-v_3w_2\right)\vec{i}+\left(v_3w_1-v_1w_3\right)\vec{j}+\left(v_1w_2-v_2w_1\right)\vec{k}\\
&=& \underbrace{\left(v_2w_3\vec{i}+v_3w_1\vec{j}+v_1w_2\vec{k}\right)}_{\vec{p_1}} -\underbrace{\left(v_3w_2\vec{i}+v_1w_3\vec{j}+v_2w_1\vec{k}\right)}_{\vec{p_2}}=\vec{p_1}-\vec{p_2}.
\end{eqnarray*}
\begin{eqnarray*}
\vec{u}\times\vec{p_1}&=& \left(u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}\right)\times \left(v_2w_3\vec{i}+v_3w_1\vec{j}+v_1w_2\vec{k}\right)\\
&=&\left(u_2v_1w_2-u_3v_3w_1\right)\vec{i}+\left(u_3v_2w_3-u_1v_1w_2\right)\vec{j}+\left(u_1v_3w_1-u_2v_2w_3\right)\vec{k}\\
&=&\left(u_2v_1w_2\vec{i}+u_3v_2w_3\vec{j}+u_1v_3w_1\vec{k}\right)-\left(u_3v_3w_1\vec{i}+u_1v_1w_2\vec{j}+u_2v_2w_3\right)\vec{k}
\end{eqnarray*}
\begin{eqnarray*}
\vec{u}\times\vec{p_2}&=& \left(u_1\vec{i}+u_2\vec{j}+u_3\vec{k}\right)\times \left(v_3w_2\vec{i}+v_1w_3\vec{j}+v_2w_1\vec{k}\right)\\
&=&\left(u_2v_2w_1-u_3v_1w_3\right)\vec{i}+\left(u_3v_3w_2-u_1v_2w_1\right)\vec{j}+\left(u_1v_3w_1-u_2v_3w_2\right)\vec{k}\\
&=&\left(u_2v_2w_1\vec{i}+u_3v_3w_2\vec{j}+u_1v_3w_1\vec{k}\right)
-\left(u_3v_1w_3\vec{i}+u_1v_2w_1\vec{j}u_2v_3w_2\vec{k}\right)
\end{eqnarray*}
Subtraíndo temos:
\begin{eqnarray*}
\vec{u}\times\left(\vec{p_1}-\vec{p_2}\right)&=& \left[\left(u_2w_2+u_3w_3\right)v_1\vec{i}+\left(u_1w_1+u_3w_3\right)v_2\vec{j}+\left(u_1w_1+u_2w_2\right)v_3\vec{k}\right]\\
&-&
\left[\left(u_2v_2+u_3v_3\right)w_1\vec{i}+\left(u_1v_1+u_3v_3\right)w_2\vec{j}+\left(u_1v_1+u_2v_2\right)w_3\vec{k}\right]
\end{eqnarray*}
Agora, somamos $u_1v_1w_1$ à primeira coordenada de cada um dos dois termos da subtração; somamos $u_2v_2w_2$ à segunda coordenada de cada um dos dois termos da subtração e somamos $u_3v_3w_3$ à terceira coordenada de cada um dos dois termos da subtração para obter:
% \begin{eqnarray*}
% \vec{u}\times\left(\vec{p_1}-\vec{p_2}\right)&=& \left[\left(u_1w_1+u_2w_2+u_3w_3\right)v_1\vec{i}+\left(u_1w_1+u_2w_2+u_3w_3\right)v_2\vec{j}+\left(u_1w_1+u_2w_2+u_3w_3\right)v_3\vec{k}\right]\\
% &-&
% \left[\left(u_1v_1+u_2v_2+u_3v_3\right)w_1\vec{i}+\left(u_1v_1+u_2v_2+u_3v_3\right)w_2\vec{j}+\left(u_1v_1+u_2v_2+u_3v_3\right)w_3\vec{k}\right]\\
% &=&(\vec{u}\cdot\vec{w})\vec{v}-(\vec{u}\cdot\vec{v})\vec{w}.
% \end{eqnarray*}
\begin{eqnarray*}
\vec{u}\times\left(\vec{p_1}-\vec{p_2}\right)&=& \left[\left(\vec{u}\cdot\vec{w}\right)v_1\vec{i}+\left(\vec{u}\cdot\vec{w}\right)v_2\vec{j}+\left(\vec{u}\cdot\vec{w}\right)v_3\vec{k}\right]\\
&-&
\left[\left(\vec{u}\cdot\vec{v}\right)w_1\vec{i}+\left(\vec{u}\cdot\vec{v}\right)w_2\vec{j}+\left(\vec{u}\cdot\vec{v}\right)w_3\vec{k}\right]\\
&=&(\vec{u}\cdot\vec{w})\vec{v}-(\vec{u}\cdot\vec{v})\vec{w}.
\end{eqnarray*}
Lembrando que $\vec{p_1}-\vec{p_2}=\vec{v}\times\vec{w}$, obtemos:
\begin{eqnarray*}
\vec{u}\times\left(\vec{p_1}-\vec{p_2}\right)&=&
\vec{u}\times\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)=(\vec{u}\cdot\vec{w})\vec{v}-(\vec{u}\cdot\vec{v})\vec{w}.
\end{eqnarray*}
O formulário abaixo resume as identidades que acabamos de demonstrar e lista mais algumas sem demonstração:
\begin{subequations}\label{vectoridendities}
\begin{align}
\vec{u}\cdot\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)&=\vec{v}\cdot\left(\vec{w}\times\vec{u}\right)=\vec{w}\cdot\left(\vec{u}\times\vec{v}\right),&\text{Triplo produto escalar}\\
\vec{u}\times\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)&=\left(\vec{u}\cdot\vec{w}\right)\vec{v}-\left(\vec{u}\cdot\vec{v}\right)\vec{w},&\text{Triplo produto vetorial} \\
\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)\times\vec{w}&=\left(\vec{u}\cdot\vec{w}\right)\vec{v}-\left(\vec{v}\cdot\vec{w}\right)\vec{u},&\text{Triplo produto vetorial} \\
\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)\cdot\left(\vec{w}\times\vec{x}\right)&=\left(\vec{u}\cdot\vec{w}\right)\left(\vec{v}\cdot\vec{x}\right)-\left(\vec{v}\cdot\vec{w}\right)\left(\vec{u}\cdot\vec{x}\right),& \\
\left(\vec{u}\cdot\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)\right)\vec{x}&=\left(\vec{u}\cdot\vec{x}\right)\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)+\left(\vec{v}\cdot\vec{x}\right)\left(\vec{w}\times\vec{u}\right)+\left(\vec{w}\cdot\vec{x}\right)\left(\vec{u}\times\vec{v}\right),& \\
\left(\vec{u}\times\vec{v}\right)\times\left(\vec{w}\times\vec{x}\right)
&=\left(\vec{u}\cdot\left(\vec{v}\times\vec{x}\right)\right)\vec{w}-\left(\vec{u}\cdot\left(\vec{v}\times\vec{w}\right)\right)\vec{x},&\\
\end{align}
\end{subequations}
\subsection*{Exercícios resolvidos}
\construirExeresol
\subsection*{Exercícios}
\construirExer
%***********************************************************************************
\section{Sistema de coordenadas cilíndricas}\index{coordenadas!cilíndricas}
\begin{figure}%[.5\baselineskip]
\begin{center}
\includegraphics{./cap_algvet/figs/coordenadas_cilindricas}
\caption{Representação de um ponto de coordenadas cilíndricas.}\label{Coo_cil}
\label{fig:coordenadas_cilindricas}
%\setfloatalignment{b}% forces caption to be bottom-aligned
\end{center}
\end{figure}
No sistema de coordenadas cilíndricas, um ponto $P$ é representado pelas coordenadas\index{Sistema de coordenadas cilíndricas} $\rho$, $\theta$ e $z$. A coordenada $z$ é a mesma do sistema de coordenadas retangulares. A coordenada $\rho$ indica a distância entre a origem e a projeção $P'$ de $P$ sob o eixo $xy$. Finalmente $\theta$ é o ângulo entre o semi-eixo $x>0$ e o ponto $P'$. Ver figura \ref{fig:coordenadas_cilindricas}. É fácil ver que
\begin{subequations}\label{xphi}
\begin{eqnarray}
x&=&\rho\cos\theta\\
y&=&\rho\sin\theta
\end{eqnarray}
\end{subequations}
onde
\begin{equation}
\rho=\sqrt{x^2+y^2}
\end{equation}
A coordenadas $\rho$, $\theta$ e $z$ são comumente denominadas, respectivamente, de ``distância radial'', ``azimute'' e ``altura''.
As equações (\ref{xphi}) podem ser reescritas como
\begin{subequations}\label{phix}
\begin{eqnarray}
\cos\theta&=&\frac{x}{\rho}=\frac{x}{\sqrt{x^2+y^2}}\\
\sin\theta&=&\frac{y}{\rho}=\frac{y}{\sqrt{x^2+y^2}}
\end{eqnarray}
\end{subequations}
\begin{exer}\label{rect_cin} Os seguintes pontos são dados em coordenadas cartesianas, encontre suas representações em coordenas cilíndricas:
\begin{itemize}
\item [a)] $\left<1,1,1\right>$
\item [b)] $\left<1,-1,1\right>$
\item [c)] $\left<-1,1,1\right>$
\item [d)] $\left<-1,-1,1\right>$
\end{itemize}
\end{exer}
Resp: $\left(\sqrt{2},\frac{\pi}{4},1\right)$, $\left(\sqrt{2},\frac{5\pi}{4},1\right)$, $\left(\sqrt{2},\frac{3\pi}{4},1\right)$ e $\left(\sqrt{2},\frac{7\pi}{4},1\right)$.
\begin{exer} Encontre uma expressão para distância de um ponto à origem em coordenadas cilíndricas
\end{exer}
Resp: $\sqrt{\rho^2+z^2}$
%
\section{Sistema de coordenadas esféricas}\index{coordenadas!esféricas}
\begin{figure}%[.5\baselineskip]
\begin{center}
\includegraphics{./cap_algvet/figs/coordenadas_esfericas}
\caption{Representação de um ponto de coordenadas esféricas.}\label{./cap_algvet/figs/coo_esf}
\label{fig:coordenadas_esfericas}
\end{center}\end{figure}
No sistema de coordenadas esféricas, um ponto $P$ é representado pelas coordenadas\index{Sistema de coordenadas esféricas} $r$, $\theta$ e $\varphi$. A coordenada $r$ indica a distância do ponto $P$ até a origem, sendo consistente com a definição de módulo de um vetor. A coordenada $\theta$ é o mesmo ângulo do sistema de coordenadas cilíndricas, ou seja, é o ângulo entre o semi-eixo $x>0$ e o ponto $P'$ (projeção de P no plano xy). O ângulo $\varphi$ é o ângulo entre a reta que liga a origem até o ponto $P$ e o semi-eixo $z>0$. Ver figura \ref{fig:coordenadas_esfericas}. A relação entre a coordenadas no sistema de coordenadas esféricas e no sistema de coordenadas cilíndricas é dada pelas projeções:
\begin{subequations}
\begin{eqnarray}
z&=&r\cos\varphi\\
\rho&=&r\sin\varphi
\end{eqnarray}
\end{subequations}
Usando (\ref{xphi}), encontramos a relação entre o sistema de coordenadas esféricas e cartesianas:
\begin{subequations}
\begin{eqnarray}
x&=&r\sin\varphi\cos\theta\\
y&=&r\sin\varphi\sin\theta\\
z&=&r\cos\varphi
\end{eqnarray}
\end{subequations}
Analogamente, pode-se escrever:
\begin{subequations}
\begin{eqnarray}
r&=&\displaystyle \sqrt{x^2+y^2+z^2}\\
\cos\varphi&=&\displaystyle\frac{z}{r}=\frac{z}{x^2+y^2+z^2}\\
\cos\theta&=&\displaystyle\frac{x}{\rho}=\frac{x}{x^2+y^2}\\
\sin\theta&=&\displaystyle\frac{y}{\rho}=\frac{y}{x^2+y^2}
\end{eqnarray}
\end{subequations}
\begin{exer}\label{rect_esf} Os seguintes pontos são dados em coordenadas cartesianas, encontre suas representações em coordenas esféricas (ver também excício \ref{rect_cin}):
\begin{itemize}
\item [a)] $\left<1,1,1\right>$
\item [b)] $\left<1,-1,1\right>$
\item [c)] $\left<-1,1,1\right>$
\item [d)] $\left<-1,-1,1\right>$
\end{itemize}
\end{exer}
Resp: $\left(\sqrt{3},\frac{\pi}{4},\theta\right)$, $\left(\sqrt{3},\frac{5\pi}{4},\theta\right)$, $\left(\sqrt{3},\frac{3\pi}{4},\theta\right)$ e $\left(\sqrt{3},\frac{7\pi}{4},\theta\right)$, onde $\theta=\cos^{-1}\left(\frac{\sqrt{3}}{3}\right)\approx 0,955.$
\section{Exemplos na física}\index{trabalho}
Na mecânica, o trabalho de uma força\index{trabalho de uma força} constante atuando sobre um corpo que se move com velocidade constante é dado pelo produto escalar da força pelo deslocamento:
$$W=\vec{F}\cdot \triangle\vec{ r}$$
O torque de uma força em relação a um eixo dado é dado por
$$\vec{\tau}=\vec{r}\times \vec{F}$$
onde $\vec{r}$ é o vetor que liga o ponto onde a força é aplicada e o pondo onde o torque é medido.
A força $\vec{F}$ que uma campo magnético $\vec{B}$ produz em uma partícula de carga elétrica $q$ em movimento com velocidade $\vec{v}$ é dado pela lei de Lorentz:
$\vec{F}=q\vec{v}\times\vec{B}.$
\section{Notas avançadas}
\subsection{O que é um espaço linear?}\index{espaço linear}
A definição de espaço vetorial dada em (\ref{defel}) é ampla e engloba conceitos bem mais gerais que os espaços euclidianos de dimensão 2 e 3 com os quais o leitor tem maior familiaridade. As funções reais $f:\mathbb{R}\to\mathbb{R}$, por exemplo, formam espaço vetorial onde os escalares são dados pelos números reais. O vetor nulo, neste caso, é a função $f(x)=0$. Este espaço não tem dimensão finita pois os polinômios $P_{n}(x)=x^n$ para $n=0,1,2,3,\ldots$ formam uma família infinita de vetores linearmente independentes (isso é uma consequência do teorema fundamental da álgebra).
\subsection{Todo espaço linear tem uma base? Axioma da escolha.}
Um problema importante é descobrir se todo espaço linear admite uma base. Este problema é mais complicado do que pode parecer e conduz a uma profunda discussão sobre os próprios fundamentos da matemática. De fato, pode-se mostrar que, o axioma da escolha implica que todo espaço linear tenha uma base.
O axioma da escolha é um dos axiomas da teoria de conjuntos padrão que tem diversas consequências contraintuitivas e fisicamente inesperadas. Um exemplo das bizarrias produzidas pelo axioma da escolha é o chamado paradoxo de Banach-Tarski: Dada uma esfera no espaço euclidiano de três dimensões, é possível cortá-la em um número finito de pedaços e rearranjar esses pedaços de forma a construir duas esferas idênticas à original. Em outras palavras, o axioma da escolha aplicado ao espaço euclidiano tridimensional traz como consequências a não preservação de ``volume'' frente a translações e rotações. Para definir de forma razoável os conceitos de comprimento, área e volumes, foi necessário o desenvolvimento da teoria da medida no final do Século XIX e início do Século XX. A solução encontrada foi construir uma medida apenas em uma família de subconjuntos chamamos conjuntos mensuráveis.
Vejamos um exemplo de espaço linear de dimensão: é fácil verificar que o conjunto de todos os polinômios $P(x)=a_0+a_1x+a_2x^2+\ldots a_nx^n$ formam um espaço linear frente às operações usuais de soma e multiplicação por um escalar. A base deste espaço é dada pelos monômios $P_{n}(x)=x^n$ para $n=0,1,2,3,\ldots$ pois cada polinômio pode ser escrito como uma combinação linear \emph{finita} de elementos desse base. No entanto, não é possível mostrar desta forma construtiva uma base para o espaço das funções reais ou mesmo para as funções reais contínuas. A existência de uma base para estes espaços é um conceito abstrato não construtivo.
\subsection{Qual amplo é o conceito de norma?}\index{norma!abstrata}
Vimos que o conceito de espaço linear é muito mais amplo e útil que parecia. E quanto à norma? Estamos familiariados com a norma euclidiana, mas será que é possível definir outras normas no espaço $\mathbb{R}^n$ de forma a satisfazer as propriedades (\ref{propnorma})? A norma euclidiana em um espaço de dimensão $n$ é dada por
$$\|\vec{x}\|=\left(x_1^2+x_2^2+\ldots x_n^2\right)^{1/2}$$
De fato é possível mostrar que podemos alterar esta expressão para
$$\|\vec{x}\|_p=\left(|x_1|^p+|x_2|^p+\ldots +|x_n|^p\right)^{1/p}$$
com $p\geq 1$ de forma a preservar todas as propriedades da norma.
Mas será que é possível definir uma norma no espaço das funções reais? Esta é uma pergunta complicada, mas podemos simplificar exigindo um pouco mais desse espaço. Por exemplo, vamos considerar o espaço das funções reais contínuas definidas no intervalo $[0,1]$. Neste espaço é possível definir a seguinte norma:
\begin{equation}\label{norma_infinito}\|f(x)\|=\max_{x\in [0,1]}|f(x)|\end{equation}
ou seja, a norma de uma função contínua é dada pelo máximo de seu módulo no intervalo.
No entanto, esta não é a única maneira de definir uma norma neste espaço, outra possibilidade é:
\begin{equation}\label{norma_lp}\|f(x)\|_{p}=\left(\int_0^1|f(x)|^pdx\right)^{1/p}\end{equation}
onde $p\geq 1$.
A norma (\ref{norma_lp}) é chamada de norma $L^p$ de uma função e a norma (\ref{norma_infinito}) é chamada de norma do máximo ou norma infinito ou norma $L^{\infty}$. Isso porque
$$\lim_{p\to\infty}\|f(x)\|_{p}=\max_{x\in [0,1]}|f(x)|.$$
Esta normas exercem enorme importância na teoria de funções com importantes aplicações no estudo das equações diferenciais.
\subsection{E o produto escalar?}\index{produto escalar}
Uma operação com as propriedades (\ref{proprodesc}) é um produto escalar. Produtos escalares não aparecem apenas em espaços de duas ou três dimensões: mesmo espaços de dimensão infinita podem possuir um produto escalar. Tomemos como exemplo novamente o espaço das funções contínuas definidas no intervalo $[0,1]$. A seguinte operação possui todas as propriedades de um produto escalar:
$$\left<f,g\right>=\int_0^1f(x)g(x)dx.$$
Observe o leitor que foi usada a notação $\left<,\right>$ para indicar o produto interno. Este produto interno induz a seguinte norma:
$$\|f\|_2=\left(\left<f,f\right>\right)^{1/2}=\left(\int_0^1f(x)^2dx\right)^{1/2}$$
que é o caso particular de (\ref{norma_lp}) quando $p=2$.
A desigualdade de Cauchy-Schwarz admite a seguinte forma:
$$\int_0^1f(x)g(x)dx \leq \left(\int_0^1f(x)^2dx\right)^{1/2} \left(\int_0^1g(x)^2dx\right)^{1/2}$$
\subsection*{Exercícios resolvidos}
\construirExeresol
\subsection*{Exercícios}
\construirExer
\section{Exercícios finais}
\construirExer
=======
%Este trabalho está licenciado sob a Licença Creative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 3.0 Não Adaptada. Para ver uma cópia desta licença, visite https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/ ou envie uma carta para Creative Commons, PO Box 1866, Mountain View, CA 94042, USA.
\chapter{Álgebra vetorial}\index{álgebra vetorial}
O objetivo deste capítulo é revisar conceitos básicos do cálculo e da álgebra linear necessários ao entendimento do cálculo vetorial.
%***********************************************************************************
\section{Vetores e escalares}\index{vetores}\index{escalares}
Na álgebra linear, vetores\index{vetor} são definidos de forma abstrata como os elementos de um espaço vetorial\index{espaço vetorial}. Os vetores são, então, os elementos de um conjunto em que estão definidas duas operações: a soma de vetores e o produto de vetores por escalares obedecendo as propriedades (\ref{defel}). Um escalar\index{escalar} é um número real ou complexo. Quando o corpo de escalares é o conjunto dos números reais, então dizemos que o espaço vetorial é real. Quando o corpo de escalares é o conjunto dos números complexos, dizemos que o espaço vetorial é complexo. Usaremos uma letra latina com uma seta para denotar vetores ($\vec{u}$, $\vec{v}$ e $\vec{w}$). Para que um espaço vetorial esteja bem definido, as seguinte propriedades devem ser satisfeitas:
\begin{subequations}\label{defel}
\begin{align}
\vec{u}+\vec{v}&=\vec{v}+\vec{u},&\text{(Comutatividade da soma)}\label{defelcom}\\
\vec{u}+\left(\vec{v}+\vec{w}\right)&=\left(\vec{v}+\vec{u}\right)+\vec{w},&\text{(Associatividade da soma)}\label{defelass}\\
\left(\alpha+\beta\right) \vec{u}&=\alpha\vec{u}+\beta\vec{u},&\text{(Distributividade da multiplicação)}\label{defeldist1}\\
\alpha \left(\vec{u}+\vec{v}\right)&= \alpha \vec{u}+\alpha\vec{v},&\text{(Distributividade da soma)}\label{defeldist2}\\
\alpha \left(\beta\vec{u}\right)&=\left(\alpha\beta\right)\vec{u},\label{defeldist3}\\
\vec{0}+\vec{v}&=\vec{v}, &\text{(Existência do vetor nulo)}\label{defelnulo}\\
0\vec{v}&=\vec{0},\label{defelnulo2}\\
1\vec{v}&=\vec{v}.&\text{(Elemento neutro)}\label{defelneutro}
\end{align}
\end{subequations}
\begin{obs} O vetor nulo $\vec{0}$ e escalar nulo $0$ são entidades matemáticas distintas e não devem ser confundidas.\end{obs}
\begin{obs}Observamos que a propriedade associativa dada por (\ref{defelass}) permite que se escreve a soma de três vetores $\vec{u}+\vec{v}+\vec{w}$ sem risco de ambiguidade. A propriedade (\ref{defeldist3}) é algumas vez chamada de associatividade, no entanto, é cauteloso observar que ela não estabelece a associatividade de uma operação, já que o produto de escalares é uma operação distinta do produto de um escalar por um vetor. A propriedade (\ref{defelnulo}) garante a existência de um vetor nulo que funciona com um elemento neutro da soma vetorial. \end{obs}
A subtração de dois vetores é definida por
\begin{equation}\label{delsub}
\vec{u}-\vec{v}=\vec{u}+ (-1) \vec{v}.
\end{equation}
O vetor $(-1) \vec{v}$ é também denotado por $-\vec{v}$ e tem a seguinte propriedade:
\begin{equation}\label{delinvad}
\vec{v}+(-\vec{v})=\vec{v}+(-1) \vec{v} = (1-1)\vec{v}=0\vec{v}=\vec{0}.
\end{equation}
Um conjunto de vetores $\{\vec{v}_1, \vec{v}_2,\ldots, \vec{v}_n\}$ é dito linearmente dependente (LD), se existem escalares $\{\alpha_1,\alpha_2,\ldots, \alpha_n\}$ com pelo menos um $\alpha_i\neq 0$ tal que
$$\sum_{i=1}^n\alpha_i \vec{v}_i=\vec{0}$$
Analogamente, um conjunto de vetores $\{\vec{v}_1, \vec{v}_2,\ldots, \vec{v}_n\}$ é dito linearmente independente (LI) se a identidade
$$\sum_{i=1}^n\alpha_i \vec{v}_i=\vec{0}$$
implica necessariamente que
$$\alpha_1=\alpha_2=\ldots=\alpha_n=0.$$
Um conjunto de vetores LI $B=\{\vec{e}_1, \vec{e}_2,\ldots, \vec{e}_n\}$ é dito uma base para um espaço vetorial $V$ se todo vetor $\vec{v}\in V$ pode ser escrito como uma combinação linear dos vetores de $B$:
$$\vec{v}=\sum_{i=1}^n \alpha_i \vec{e}_i.$$
Um espaço vetorial é dito de dimensão finita se admite uma base composta por um número finito de elementos.
\begin{teo}\label{teo_dim} Seja $V$ um espaço vetorial e $E=\{\vec{e}_1, \vec{e}_2,\ldots, \vec{e}_n\}$ e $F=\{\vec{f}_1, \vec{f}_2,\ldots, \vec{f}_m\}$ duas bases de $V$. Então $n=m$. Em outras palavras, todas as bases de espaço linear de dimensão finita têm o mesmo número de elementos.
\end{teo}
A importância deste teorema reside no fato de permitir a definição de dimensão de um espaço vetorial como sendo o número de elementos de uma base. Esta definição está bem posta, uma vez que este número independe da escolha de base.
Outro conceito importante em espaços reais de dimensão finita é o de orientação de uma base\index{orientação}. O leitor já deve estar familiarizado com o conceito de orientação dextrogira e levogira\index{dextrogira}\index{levogira}\index{regra da mão direita}\index{regra da mão esquerda} (regra da mão direita e esquerda) no espaço tridimensional. No entanto este conceito pode ser estendido de forma natural para espaços reais de n-dimensões. Formalmente falando duas bases $B_1$ e $B_2$ têm a mesma orientação se o determinante da transformação linear que liga $B_1$ a $B_2$ é positivo.