Descrição do projeto Micro-Arquiteturas e Outros Manifestos Espaciais
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A forma como interagimos como cidadãos em um novo cenário global e local está transformando a maneira como produzimos nossas cidades, como nos relacionamos enquanto indivíduos e como atribuímos valor ao produto de nosso trabalho. Utilizamos das ferramentas digitais disponíveis para criar novos territórios físicos e virtuais, suporte de nossas atividades e necessidades mais básicas. Conceitos como Open Source Hardware / Software e Crowdsource são manifestações de nossa busca incessante por adaptação.
Essas novas experiências poderiam ser entendidas como sintomas de mudança sociais mais profundas? Elas podem ser tomadas por nós, arquitetos, designers e planejadores urbanos, como parte integrante de práticas que irão definir, futuramente, tanto novas formas de sociabilidade como novas formas de produção e concepções espaciais? Nós, arquitetos, designers, artistas e outros produtores culturais somos vistos, nesse contexto, como iniciadores de projetos com os quais, além de contribuir com habilidades específicas, podemos, também pesquisar, inventar e utilizar formas alternativas de ação.
O tratado “A condição humana” de Hannah Arendt descreve a ação como um catalisador necessário à condição plural humana, expressão tanto do âmbito público como individual. Essa leitura da ação requer liberdade para nos movermos em direção a um projeto coletivo, ao mesmo tempo “bottom-up” e “top-down”. Simultaneamente, essas novas formas de interação também podem nos levar a explorar formas de coletividade que irão possibilitar diferentes maneiras para viabilizar projetos arquitetônicos específicos ou intervenções urbanas mais radicais.
A cidade descartada
Em constante mudança, a cidade se refaz a cada instante. Feita da sobreposição de vivências humanas no meio físico, os elementos materiais da cidade se mostram também efêmeros, sendo constantemente renovados e substituídos. Observamos isso a todo momento, caçambas cheias de entulho revelam aquilo que foi outrora a parte mais concreta das cidades: edifícios, abrigos das experiências humanas que agora, acumulados numa esquina, não passam de resíduo.
Mas seria este o fim desses materiais que compuseram um dia partes da cidade? Estariam esgotados? E se deles surgissem novas possibilidades de uso e apropriação? Nossos manifestos espaciais se desdobram a partir dos restos da cidade - pedaços, partes, fragmentos materiais considerados esgotados são apropriados e transformados em elementos espaciais que potencializam trocas entre as pessoas, enfim, celebram a cidade.
A - Proposta
Estruturas com função aberta, “Micro-arquiteturas e outros manifestos espaciais” são dispositivos construídos com recursos disponíveis, doados, encontrados, apropriados, ressignificados.
O projeto-piloto compreende a construção de três (3) estruturas físicas que podem assumir o papel de espaço para reunião, piquenique, lazer, repousar, dançar, apresentar uma peça, etc. Podemos entender tais estruturas como “mobiliários inespecíficos”.
As Micro-arquiteturas desejam discutir a funcionalidade inerente aos objetos urbanos, pretende ser catalizador de ações na cidade, abrindo-se ao acaso e, assim, potencializando as relações entre as pessoas e seus lugares do cotidiano.
Infraestruturas abertas
Queremos criar e disponibilizar infraestruturas abertas para atividades diversas e não previamente programadas na cidade. Uma infraestrutura aberta, conceito derivado do Open Source, pode ser entendida como aquela cujo código - especificações técnicas, normas, projetos e concepção - está disponível para que outros possam com ela aprender, replicá-la ou até mesmo ajudar a melhorá-la ou ressignificá-la. Consideramos as Micro-arquiteturas, nesse sentido, infraestruturas abertas, pois, assim como outras infraestruturas urbanas, elas proporcionam e possibilitam apropriações e usos fundamentais para a sociedade.
Autoconstrução
Como uma forma de engajamento social. Quando construímos, refletimos sobre o que está sendo construído; esse é um processo cíclico que acarreta no aperfeiçoamento da concepção e da construção. Os Manifestos espaciais serão construídos colaborativamente com tecnologias acessíveis, ou seja, nesse processo cíclico de construção e concepção, são acrescidos olhares e experiências de um grupo de pessoas, reforçando o caráter aberto do projeto.
Manuais de documentação
Através de esquemas e “receitas” serão construídos manuais com toda a documentação das instalações. Esses instrumentos irão possibilitar o compartilhamento da informação produzida e o ensino das técnicas e tecnologias utilizadas na construção dessas três Micro-arquiteturas. Posteriormente, estes manuais possibilitarão a replicabilidade da proposta em novos contextos onde cada estrutura poderá ser interpretada, adaptada e modificada.
Cartografia coletiva de recursos
Como forma de obtenção de recursos para este projeto e para futuros projetos semelhantes de intervenção urbana, propomos um mapeamento colaborativo online. Através desse mapa pessoas podem incluir recursos disponíveis em suas vizinhanças (terrenos baldios com material depositado, caçambas de entulho), recursos para doação (ferramentas, madeira, metais), locais de interesse e “hotspots” (depósitos de lixo, pontos de despejo de lojas, oficinas, etc), além de contatos para mão de obra e serviços.
A cartografia terá também a função de definir os pontos de instalação das estruturas, o que poderá ser feito considerando a distância entre os locais de coleta de recursos.
Contamos com uma plataforma beta já em funcionamento. O site já conta com a maioria das funcionalidades desejadas e pode ser alimentado diretamente através de computadores, celulares e tablets. Essa versão do mapa pode ser acessada através do link: