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Inspirações para a sala de aula - unidade 1

  1. Quem é o amigo do rei?

Uma maneira de observar os efeitos da ambiência racial presente em nossas salas de aula

A ambiência racial é constituída de um meio físico, estético ou psicológico no qual podem ser observadas referências às características socioculturais de um ou mais grupos raciais. Identificar e questionar (caso seja discriminatória) a ambiência racial estabelecida em seu contexto escolar são as primeiras ações que um educador antirracista deve empreender. Nesse sentido, sugerimos a realização de uma atividade com seus alunos: “quem é o amigo do rei”?

Para dar início à sequência didática, sugerimos a contação da história "O amigo do rei", de Ruth Rocha (para ter contato com o seu conteúdo, recomendamos uma busca na internet, onde podem ser encontrados resumos e vídeos que ilustram a história).

Embora o pano de fundo da história esteja relacionado à escravidão no Brasil, o conto retrata o personagem negro para além da condição escravizada, resgatando elementos de sua cultura, na qual o menino negro era visto como sucessor do rei, e, além disso, demonstra, mesmo que de maneira sutil, que os negros escravizados não aceitaram passivamente a condição a que foram submetidos, evidenciando uma das formas de resistência do povo negro: os quilombos. Entretanto, para esse primeiro momento, a ilustração da história é o elemento mais importante. No intuito de identificar os reflexos da ambiência racial de seu contexto escolar, mostre a capa do livro aos seus alunos e peça que eles identifiquem: quem é o rei? Quem é o amigo do rei?

Muito provavelmente, a maioria das respostas de seus alunos fará referência ao menino branco de cabelos vermelhos como o rei e ao menino negro como seu amigo. Perceba esse fato presente no relato da professora Carolina, que já aplicou a atividade em sua turma:

As crianças em sua maioria relacionaram a figura do menino branco com o rei e do menino negro com o amigo. Quando questionadas sobre por que pensavam daquela maneira, ficaram confusas, pois não haviam levantado a possibilidade de o menino negro ser o rei. Dentre as falas mais significativas, uma das crianças disse que o menino negro estava pedindo dinheiro para o outro e, portanto, era o amigo e não o rei. Outra justificou a escolha pela diferença nas vestes dos meninos; uma terceira considerou que o menino branco estava sentado em um trono (na figura ele sentava em uma pedra). Houve ainda quem considerou que o rei era o papagaio que estava por perto. Apenas oito crianças (de 38) consideraram que o menino negro era o rei; dessas, cinco já conheciam a história, duas não justificaram sua escolha e uma considerou o negro mais bonito, portanto deveria ser o rei (Profa. Carolina Chagas Schneider).

Além disso, mesmo que hoje soframos influências de uma cultura globalizada, artefatos culturais que exaltem características positivas dos negros ainda são tímidos se comparados à imensa quantidade de referências positivas aos brancos. Sendo assim, em ambientes insensíveis à necessidade de que uma nova ambiência racial se estabeleça, é muito comum que os alunos atribuam à raça branca elementos favoráveis, deixando aos negros, a respeito dos quais desconhecem a história, predicados pejorativos.

Se, em sua turma, os resultados obtidos forem diferentes dos apontados acima, é sinal de que uma nova ambiência racial já vem sendo construída nesse contexto.

Sequência da atividade

Conte a história aos seus alunos tomando o cuidado de substituir a palavra “escravos” por “escravizados” (lembre-se de que Ruth Rocha escreveu essa história em um momento no qual o termo “escravo” ainda não havia sido problematizado). Pretende-se, com a troca dos termos, dar a dimensão de que essas pessoas foram vítimas da ação de outras, e não estavam em tal condição naturalmente (como muitas vezes a escravidão é entendida). Nesse sentido, Carvalho (2017) esclarece:

“quando nos referimos, em sala de aula, ao escravo africano, nos equivocamos, pois ninguém é escravo – as pessoas foram e são escravizadas. O termo 'escravo', além de naturalizar essa condição às pessoas, ou seja, trazer a ideia de que ser escravo é uma condição inerente aos seres humanos, possui um significado preconceituoso e pejorativo, que foi sendo construído durante a história da humanidade. Além disso, nessa mesma visão, o negro africano aparece na condição de escravo submisso e passivo”.

Referências:

CARVALHO, Leandro. Lei 10.639/03 e o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana. Brasil Escola, Canal do Educador. Disponível em: http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/lei-10639-03-ensino-historia-cultura-afro-brasileira-africana.htm. Acesso em: 20 junho 2017.

ROCHA, Ruth. O amigo do rei. São Paulo: Editora Salamandra, 2009.